Diz o candidato: "então, nesse caso, Excelência, ehrr...tem que ver o que ele queria quando atirou...".
Ao que o examinador indaga: "o senhor está querendo dizer que deve ser aferido o elemento subjetivo do agente à luz da contemporaneidade? É isso?"
"Sim, Excelência", responde-lhe, de imediato - e aliviado -, o candidato.
"Pois bem. E o que é analisar com base na contemporaneidade? Afere-se a conduta? O resultado? Como a doutrina trabalha essa questão?" - insiste o examinador, porque percebeu o solecismo inicial e, muito provavelmente, um ponto de desconforto do candidato. O teste emocional vai se aprofundar aqui!
O "solecismo" é um termo utilizado para significar a violação de norma de sintaxe ("houveRAM alterações no CPP que foram objeto de discussão no STF..."). No entanto, autores clássicos (Aristóteles e Quintiliano, por ex.) e atuais (como José L. Fiorin - trecho citado) incluem também, dentro do alcance do "solecismo", o discurso com terminologia rudimentar ou inculta.
Dentro da divisão da retórica, a elocução (ou, de forma mais simples, o português) é extremamente relevante na comunicação e, portanto, na prova oral. Muitas vezes, não percebemos o prejuízo, afinal, a resposta está certa. Falei bem, com boa dicção e gestual fluido. Mantive contato visual. Não errei o português. Mas a construção terminológica comunica uma impropriedade técnica ou pobreza elocucional. E isso transmite uma reputação atécnica ao orador (um "ethos desfavorável" diante de auditório - que não é leigo - que vai valorizar o aparato técnico do candidato).
Não é à toa que muitos editais valoram explicitamente o "português" e o "uso adequado do português".
Nesse cenário, é importante dosar as habilidades para, por exemplo, não sobrecarregar a preocupação com a oratória e, com isso, revelar-se um candidato desequilibrado na elocução, com solecismos em excesso.
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