Como bem disse Quintiliano no excerto sobre o orador de IMPROVISO: "a capacidade intelectual TOTAL deve ser aplicada aos assuntos, e no momento ABRIR MÃO de maior preocupação com o vocabulário, se não for possível conseguir as duas coisas."
Se até da riqueza da linguagem precisamos abrir mão (convivendo até com reticências e quebras sintáticas, como os anacolutos), o que dizer do gestual perfeitamente calculado? Do semblante rigorosamente simétrico? Da velocidade de fala inabitual e constante?
Sem dúvida, se o teleprompter do William Bonner falhasse, a preocupação central dele seria, sob improviso, passar uma mensagem clara e sem ruídos graves. E terminar com dignidade. Em segundo (ou último) plano, ficaria a preocupação se desvia ou não pontualmente o olhar da câmera.
Sem embargo, a maior parte da literatura de BEST-SELLER de oratória atualmente trata de cenários empresariais, cuja premissa central é NÃO estar em cenário de IMPROVISO: apresentações de Steve Jobs de novos modelos, marketing de vendas do livro "Segredos da Persuasão", TED talks, "Como falar em público e influenciar pessoas no mundo dos negócios" e, no Brasil, "Persuasão" de Mayte Carvalho. Enfatizam, em suma, a história inspiradora (storytelling), a energia/tom da comunicação e a forma de se portar.
De maneira acrítica, essa literatura, pensada para OUTROS contextos, acaba por informar a enorme maioria de cursos na área, dentro e fora do meio jurídico: reduzem a RETÓRICA (uma arte bem rica, desenvolvida por milênios, que trata da construção de informações, disposição, elocução e pronunciação), que é GÊNERO, a uma mera ORATÓRIA (pronunciação ou declamação), que é ESPÉCIE. Uma metonímia pobre.
Por isso, repito o que costumo falar aos alunos: ninguém fica em 1° da prova oral por conta de gestual, e sim pela boa fluência de conteúdo. Que a concentração recaia nele!
0 Comments: