Júlio Segundo, em Roma (I a.C.), ainda adolescente, estava abatido, quando seu tio, Júlio Floro, o maior orador da Gália, indagou acerca do ...

#Retórica

By | novembro 18, 2021 Leave a Comment


Júlio Segundo, em Roma (I a.C.), ainda adolescente, estava abatido, quando seu tio, Júlio Floro, o maior orador da Gália, indagou acerca do motivo. O rapaz não disfarçou e revelou que aquele era já o terceiro dia em que não encontrava, a despeito do grande esforço empregado, uma introdução para o assunto sobre o qual deveria falar. Então Floro lhe disse sorrindo: “Porventura tu não estás querendo falar melhor do que és capaz?”


Não escrevemos como Machado de Assis e, a despeito disso, escrevemos. Não dirigimos como Senna e, malgrado isso, dirigimos. Na prova oral, não temos teleprompter. O conteúdo é localizado e construído ali. E queremos falar da maneira refletida e elevada com a qual escrevemos?


William Bonner pode se dar a esse luxo: tem um teleprompter. Preocupa-se, de conseguinte, “apenas” com o aspecto sonoro (velocidade e altura, por ex.) e visual (estética e movimento de mãos, por ex.). Isso é o que os romanos chamavam de “pronunciação” (actio). Mas… e se ele tivesse que, de imediato, produzir a matéria (inventione), escolher se entra na pauta (refutações), em que ordem (dispositio) e com que linguagem (elocutio)? Sob pressão e ao vivo. Falaria do mesmo modo? Com a mesma constância? Sem em nenhum momento desviar o olhar?


Identificar o conteúdo, a ordem e o estilo são temas da retórica (estudados, respectivamente, na “inventione”, “dispositio” e “elocutio”), assim como a pronunciação (“actio”). Porém, é muito comum a metonímia, confundindo a RETÓRICA, que é gênero, com a ORATÓRIA/pronunciação, que é espécie. Devemos, em todo caso, sempre atacar a doença com o remédio certo: não é sobrecarregando a preocupação com o gestual e o olhar – infelizmente, muito comum e que produz apatia e robotização - que resolveremos problemas nas outras etapas da retórica. 


Nesse sentido, sob improviso, devemos seguir Quintiliano: "Fale segundo suas possibilidades. [Pois] acontecem inúmeras e imprevisíveis circunstâncias que requerem ações sem a devida preparação”. O objetivo na prova oral não é ter a mesma fluência de quem apresenta um TCC sobre um tema de que gosta, mas sim, lidando com cenários incontroláveis, entregar o melhor segundo as  possibilidades.


Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 Comments: