Não escrevemos como Machado de Assis e, a despeito disso, escrevemos. Não dirigimos como Senna e, malgrado isso, dirigimos. Na prova oral, não temos teleprompter. O conteúdo é localizado e construído ali. E queremos falar da maneira refletida e elevada com a qual escrevemos?
William Bonner pode se dar a esse luxo: tem um teleprompter. Preocupa-se, de conseguinte, “apenas” com o aspecto sonoro (velocidade e altura, por ex.) e visual (estética e movimento de mãos, por ex.). Isso é o que os romanos chamavam de “pronunciação” (actio). Mas… e se ele tivesse que, de imediato, produzir a matéria (inventione), escolher se entra na pauta (refutações), em que ordem (dispositio) e com que linguagem (elocutio)? Sob pressão e ao vivo. Falaria do mesmo modo? Com a mesma constância? Sem em nenhum momento desviar o olhar?
Identificar o conteúdo, a ordem e o estilo são temas da retórica (estudados, respectivamente, na “inventione”, “dispositio” e “elocutio”), assim como a pronunciação (“actio”). Porém, é muito comum a metonímia, confundindo a RETÓRICA, que é gênero, com a ORATÓRIA/pronunciação, que é espécie. Devemos, em todo caso, sempre atacar a doença com o remédio certo: não é sobrecarregando a preocupação com o gestual e o olhar – infelizmente, muito comum e que produz apatia e robotização - que resolveremos problemas nas outras etapas da retórica.
Nesse sentido, sob improviso, devemos seguir Quintiliano: "Fale segundo suas possibilidades. [Pois] acontecem inúmeras e imprevisíveis circunstâncias que requerem ações sem a devida preparação”. O objetivo na prova oral não é ter a mesma fluência de quem apresenta um TCC sobre um tema de que gosta, mas sim, lidando com cenários incontroláveis, entregar o melhor segundo as possibilidades.
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