“Não perca seu sonho de vista”.
Não poderia deixar de iniciar dizendo
que sempre estive aí me inspirando com os depoimentos que li. Mas agora estou
aqui.
Sou Lídia Cândido, natural de Natal/RN,
tenho 34 anos e sou servidora efetiva do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Minha
trajetória com provas e concursos começou ainda na faculdade. Sempre fiz
seleções para conseguir os estágios e, por motivos pessoais, precisei correr atrás.
Passei no concurso para servidor do TJPE, mas só fui chamada no último semestre
- final de 2009, quando mais precisava. No trabalho, algumas situações foram
inspirações e me fizeram acreditar que poderia ir além. Decidi ser magistrada.
E diferente de algumas pessoas
que esperam estudar alguns anos para começar a fazer provas, eu comecei fazendo
provas, porque precisava perceber que não era um “bicho de 7 cabeças”, mas que era
preciso estudar muito, só não imaginava o que me esperava.
Em 2013 voltei realmente a
estudar e conciliar com o trabalho, mas não conseguia passar da fase objetiva. Parecia
impossível ver meu nome naquelas listas do fórum do CorreioWeb (sim, sou desse tempo!).
Eu achava “o máximo” quem passava para a segunda fase, tinha muito orgulho dos
amigos que conseguiam e pensava que eles sabiam tudo, mas que eu ainda estaria longe
disso.
Naquele ano fiz amizades que
trago até hoje. Uma delas, em 2015, virou minha chave na aprovação da 1ª fase, mostrando
que, além do estudo profundo de doutrina e jurisprudência que eu fazia (principalmente
para o trabalho), precisava ter estratégias para avançar naquela fase. Depois
daquele choque de realidade, ajustei meu estudo com inúmeras resoluções de questões,
lei seca, súmulas “até dizer chega”, atualizações legislativas e ver alguns assuntos
de forma mais objetiva.
Passei na 1ª fase do TJRR, que
felicidade! Fiquei emocionada quando vi meu nome no Dje, parecia um sonho. Ao
mesmo tempo, me senti uma fraude, porque eu não sabia tudo e estava na segunda
fase. Então, corri atrás das matérias/assuntos que tinha mais dificuldade.
Poucas semanas antes da minha
primeira segunda fase, fiz a 1 fase do TJSC e passei. Logo após, o TJAL, passei
novamente. Eu não acreditava que agora eu estava em 3 segundas fases, o sonho
era real. Lembro que uma pessoa me disse “Você está em 3 segundas fases, claro que
alguma vai dar certo, não é possível que não dê!”. E claro que era possível: reprovei
nas 3.
No TJRR, passei nas discursivas,
mas o espelho da sentença cível foi uma decepção. No TJAL realmente não fiz uma
prova suficiente para aprovação nas discursivas, tinha negligenciado o estudo de
humanística. No TJSC também não consegui avançar nas discursivas, apesar de ter
ficado tão perto. Assim, o ano de 2016 se aproximava e eu já não tinha mais “nada”.
Agora teria que voltar ao início.
É como em jogo de videogame que não “salva seu progresso”, quando você “morre”
vai imediatamente para fase inicial. Era 2016 e eu retornava às fases objetivas,
dessa vez do TJDFT, TJRJ, TJAM e TJRS. No TJRJ e TJRS, reprovei. No TJDFT quase
deu, mas foi o TJAM que me surpreendeu. Passei bem, fui para a 2ª fase e
resolvi fazer o que até então não tinha feito: procurar um curso específico,
treinar muito e fazer a minha parte.
Fui aprovada nas discursivas do
TJAM e estava bem classificada. Lembro que vi o padrão de resposta esperada e a
expectativa cresceu. Resultado: 9.35 na sentença criminal, nem eu acreditava,
mas na sentença cível foi 5.85, reprovada. Vi minha correção e me senti frustrada,
não havia pontuado o que tinha escrito e isso fazia toda a diferença na minha
condição de “reprovada x aprovada”.
Aquele sentimento de frustração
tomou conta de mim. Passei o ano de 2017 sem me dedicar (não façam isso), mas em
2018 resolvi retomar. Retomei os estudos, mas reprovei no TJCE, TJMG, TJMT e TJSP.
Surgiu então um medo: “Será que nunca mais vou passar nas objetivas?”.
Fiz uma análise, reajustei alguns
pontos e insisti. Em 2019, fiz TJAC, deu certo. Fui para o TJSC no mesmo mês, mas
outra banca, deu certo também. Senti que era uma resposta de Deus dizendo “Não
desista!”. Tive que optar, porque ambas as provas de segunda fase seriam no
mesmo dia (o concurseiro não tem um dia de paz) e fui para o TJSC. Apesar da
dificuldade da prova, sai feliz de lá, porém, o 5 “e pouco” reapareceu e fiquei
novamente no “quase”.
Ainda em 2019 fiz TJPA, a prova
foi anulada. Uma semana antes da data remarcada, teve o TJRJ. Fui para ambos,
embora focando na objetiva do TJPA, sem grandes pretensões, passei nos dois. Senti
que estava “concorrendo” de novo, tinha que continuar.
Uma semana antes da segunda fase
do TJPA, teve a objetiva do TJMS. Alguns até me questionaram “Você vai para o
TJMS? É uma semana antes da segunda fase do Pará, tem certeza?”. Sim, eu tinha
certeza! Dica: não perca as oportunidades!
Era o início da minha trajetória
mais surpreendente. Na primeira fase do TJMS sai da prova pensando que não iria
passar. Na mesma semana, fui para o Pará. Fiz as discursivas, sai muito satisfeita
com as questões e sentenças. Aquela expectativa do TJAM de 2016 tinha voltado
com tudo. “Será essa a minha prova?”, eu pensei. E na volta para casa, entrando
no avião, um grande amigo me disse “Lídia, chegou a nossa vez.”.
Mas não, não era e não foi. Reprovei
nas discursivas do TJPA e fiquei extremamente triste com a correção, que decepção.
Recorri, mas não consegui. Cheguei a me questionar se estaria insistindo em
algo que não era para mim. Estava cansada.
No entanto, a pandemia chegou e
reforçou que a tristeza da reprovação era nada diante de outra situação. A vida
sempre foi muito mais que aquilo e eu tinha motivos para agradecer.
Sabe aquela prova do TJMS que eu
achava que não ia dar? Passei! Estava na segunda fase, que logo foi retomada. Discursivas
corrigidas, resultado positivo, chorei dizendo “Obrigada meu Deus, eu precisava
disso.”. Eu precisava saber que ainda era capaz de ultrapassar a discursiva. E
agora? E aquela sentença cível nunca vista em provas? Uma coisa de cada vez.
Sentenças divulgadas, estava lá
meu nome ao vivo no YouTube, uma imagem trêmula da nota e eu não conseguia
acreditar: estava na prova oral! Aquela oral que só ouvia falar, que parecia
tão distante, mas eu estava lá.
Nessa hora confesso que é um mix
de alegria “Estou na prova oral!!!” com espanto “E agora? Estou na prova oral!!!!”.
Não pensei duas vezes: no mesmo dia mandei uma mensagem para o Instagram do Prof.
Júlio César pedindo vaga, estava disposta a fazer tudo que estivesse ao meu
alcance e o tempo era curto. Sai do curso muito segura com a sensação que poderia
responder qualquer pergunta com as técnicas repassadas pelo Prof. Júlio. Ele mostra
que você pode ser você mesma, mas lapidada. O prof. ainda me ajudou com suas dicas
valiosas na véspera da minha prova de tanto que eu perguntava.
Para a prova oral, descobri uma
preparação em que o conteúdo jurídico é “apenas” um detalhe. Essa fase requer
uma dedicação completa, como nunca imaginei. É uma soma de estudar muito, desenvolver
boa oratória, raciocínio jurídico rápido e equilíbrio emocional para permanecer
firme e segura diante dos imprevistos. Ou seja, quando você pensa que está
terminando, está apenas começando.
Fiz ainda outros 2 ótimos cursos com
simulados semanais e treinava com amigos que fiz nessa fase do concurso, um
deles, inclusive, treinou comigo até um dia antes do meu sorteio das 24h, mesmo
muito esgotado. Para cada treino, um crescimento. Depois dessa experiência da
oral, tive uma sensação de enorme evolução: entrei uma pessoa e saí outra, com
muito mais aprendizado, sobretudo, de vida.
No último mês quase cheguei à
exaustão, trabalhando e estudando, em um curto e intenso espaço de tempo, fiz
tudo o que podia. E mesmo que o estudo seja uma atividade solitária, ninguém
chega até aqui sozinha. Nosso sonho passa a ser o sonho da nossa família, do
namorado/companheiro/marido e dos nossos verdadeiros amigos. Eles sofrem com a nossa
reprovação e torcem pela superação. Minha mãe sempre dizia “Filha, Deus não
está dormindo.”. Ela tinha razão.
Hoje vejo que todas as
reprovações me trouxerem até aqui e ensinaram que eu precisava mudar, ajustar,
melhorar ou simplesmente continuar e esperar.
Durante esse tempo também que sorri,
gargalhei, me diverti, conheci o Brasil quase todo, fiz verdadeiros amigos pelo
caminho, fui ajudada e pude ajudar. Na vida, seja generosa com os outros e com
você. E, como diz uma grande amiga: seja feliz na busca.
Ao longo desses inúmeros anos, vi
muitos amigos passando, tomando posse, indo para prova oral e eu ainda nas objetivas
e discursivas. Aprendi que todos temos o nosso tempo. Quando tiver que dar certo,
até o que for para atrapalhar, vai ajudar. Até aquele concurso que você fez e
ficou chateada porque nunca foi chamada servirá como título para melhorar sua
nota final e te colocar no pequeno número de vagas previstas no edital.
Portanto, não se intimide com a
quantidade de inscritos, com aquela multidão nos locais de prova ou com elevado
número de concursos que já fez, nem compare seu tempo com o de alguém. Inspire-se
com a trajetória dos outros, mas a sua será única.
Ninguém tem a vida perfeita, todos
enfrentamos percalços que só Deus e nós sabemos, seja no aspecto pessoal, profissional
ou financeiro, mas continue estudando. No ritmo que a situação permitir, faça o
seu melhor.
Não desista e siga, enfrente!
No fim, quando o momento que Deus
reservou para você chegar e te encontrar estudando e se dedicando, não tem como
não chorar de gratidão com a aprovação, de alívio com a nomeação e dizer que...
...Faria tudo de novo, com as
mesmas frustrações, no mesmo tempo, não mudaria nada, porque tudo fez sentido.
E se isso parecer “clichê”,
espere até acontecer com você.
“Àquele que é poderoso para fazer
infinitamente além daquilo que pedimos ou pensamos, seja toda honra e toda Gloria.”.
Efésios 3:20.
Parabéns pela história, e sucesso no cargo! :)
ResponderExcluirQue história inspiradora! Muito obrigado!
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