Trago hoje a trajetória de Isadora Balestra Marques, aprovada para juiz do TJBA. No meio da pandemia e de uma prova oral, Isadora, assim como vários parentes, contraiu COVID-19 e perdeu pessoas muito próximas. Apesar disso tudo, tirou todas as forças que possuía e foi aprovada para juíza com excelente nota na prova oral! Vale muito a leitura: uma história de perdas, sentido da vida, luta e amadurecimento. Como bem disse a Isadora, "se eu fosse aquela menina de 25 anos de 1 ano atrás, não estaria hoje tão forte. Difícil compreender os desígnios de Deus, mas hoje sei que estarei onde tenho que estar e minha história, ainda que 'torta' e no meio de uma pandemia, foi escrita como tinha que ser". Parabéns, Isadora!
Primeiramente, preciso dizer que nem nos meus melhores sonhos eu imaginava que estaria aqui, no perfil do Júlio, falando sobre a minha trajetória e concretizando o feedback enviado após o curso: “A aluna tem plenas condições de disputar as primeiras posições da prova oral!”.
Quando me vi aprovada para uma prova oral com apenas 25 anos, tentei manter minhas expectativas baixas, tudo por medo de me frustrar. Me questionava qual seria a “história da aprovação” que um dia eu compartilharia com as pessoas e se realmente a minha vez estaria chegando.
Comecei meus estudos em julho de 2015, no último semestre da faculdade. Tive uma pausa de um ano (entre 2016 e 2017), continuando até minha aprovação (2020).
Eu mal sabia que uma pandemia faria parte da minha “grande história”. Posso dizer que o resultado da prova oral foi meu arco-íris após um ano chuvoso.
Logo que marcaram a prova oral da Bahia e enquanto eu me preparava para ela, meu sogro faleceu. Como faltava pouco mais de um mês para a prova, resisti e continuei, sabendo que logo poderia parar e finalmente respirar. Contei com a ajuda e compreensão do meu noivo, mesmo tendo acabado de perder seu pai.
As notícias da pandemia no Brasil se intensificaram poucos dias antes da prova e, em razão disso, os aeroportos fecharam. Com isso, o concurso ficou suspenso por tempo indeterminado.
Assim como vários outros concurseiros, me vi nos meus dias mais “sombrios” de estudos. Resiliência para estudar com tantas incertezas e notícias ruins. Criar uma rotina sem poder sair de casa e com todos os familiares também em casa foi desafiador.
Encontrei forças e, novamente, segui.
Diminui meu horário de estudos para ter um tempo de descanso à noite, trocando a “quantidade” pela “qualidade”. Assim, estudava até as 18h e depois aproveitava minha família, via um filme, distraia... algo que era novo para mim, já que eu estava acostumada com um ritmo mais acelerado e uma rotina rígida.
Sabendo que o concurso estava suspenso e que “forçar” algo poderia gerar até um esgotamento mental, desacelerei e tentei não ser consumida por tudo o que estava acontecendo. Respeitei meus limites.
No mês de julho, todos os meus familiares mais próximos (14 pessoas) contraíram o vírus, dois (minha avó e meu padrasto) internados. Logo em seguida, também tive COVID. Entre dormidas no hospital como acompanhante, tosses e falta de ar, tive simulados de prova oral e seguia, na medida do possível, sendo concurseira. “A linha de chegada está logo ali” - pensava mesmo já desacreditada, já que, inevitavelmente, eu me comparava com os outros.
Dia 24/07/20 às 15:10 enviei uma mensagem para a minha mãe contando que a data da prova oral da Bahia tinha acabado de ser divulgada e que seria em setembro. Às 18:30, recebi a pior ligação da minha vida com a notícia de que meu padrasto havia falecido em decorrência da COVID.
Nunca havia enfrentado uma morte tão precoce e tão de perto. Foi ele quem me incentivou a entrar no curso de direito e me deu a oportunidade de aprender a ser advogada e trabalhar com ele (advoguei com ele durante os meus dois primeiros anos de formada).
Desse dia até o dia da prova oral (cerca de 1 mês e meio depois), cresci mais do que nos meus quatro anos de estudo. Fui carregada no colo por Deus. Entre choros (muitos), orações, estudo (dentro do possível e fazendo mais do que imaginava ser capaz) e muita ajuda dos que estavam comigo, cheguei até o dia da prova.
Foi quase um ano de estudo para a prova oral. Quase dois anos desde a primeira fase desse concurso. Durante ele, vieram tantos outros e muitas reprovações. Quando mais me sentia capaz e estava nas minhas melhores condições, reprovava por poucos décimos em uma das sentenças. Quando achei que não daria conta e nem forças tinha, fiz a prova que mudaria a minha vida.
Fui sorteada para ser a primeira do meu turno e, sendo bem sincera, lembro muito vagamente dos meus 15 minutos de prova. Depois dela, tentei manter as minhas expectativas baixas.
Para minha surpresa e alegria, meu grande dia chegou! No dia do resultado, recebi a notícia de que tinha sido uma das maiores notas do concurso: 9,7.
A grande verdade é que fazemos nossa parte, estudamos, nos planejamos e damos nosso melhor.... Mas aquele velho clichê é verdadeiro: O que é para ser nosso, vai ser.
Estamos todos em uma constante subida, e o topo da “montanha” está logo ali. Creio que, durante meus anos de estudo, fui levada às mais diversas situações. Tive momentos mais calmos, em que pude subir e, ainda assim, apreciar a vista da subida. Tive subidas mais íngremes, em que tive que acelerar o passo, chegando à exaustão. Tive também obstáculos. Em momentos difíceis, a constância dos estudos me permitiu não parar.
Confesso que, no final, minha motivação para o “sprint final” dessa corrida em direção ao topo era: “Nunca mais quero passar por uma perda tendo que me dividir com os estudos”. Ao mesmo tempo, mantive a fé e esperança de que se fosse meu, nada me tiraria. Entreguei para Deus, sabendo que a última palavra é sempre Dele.
Enfim... Cheguei. Se tivesse ido com minhas forças, não teria ido tão bem. Se eu fosse aquela menina de 25 anos de 1 ano atrás, não estaria hoje tão forte. Difícil compreender os desígnios de Deus, mas hoje sei que estarei onde tenho que estar e minha história, ainda que “torta” e no meio de uma pandemia, foi escrita como tinha que ser.
Desejo muita força para todos que estão estudando em meio à pandemia. Sigam firmes! Se conseguir “só” andar, ande! Quando for necessário, dê o seu “sprint final”. Vai valer a pena!
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