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Trago hoje a trajetória de Guilherme Ferreira Hack, promotor aprovado em 3º lugar no MPMG! A jornada do Guilherme é uma lição de vida: da superação do paradigma de "idade para passar" à força para, após quase jogar a toalha, voltar! Nessa hora, como bem disse o Guilherme, "A primeira é para que você nunca deixe de olhar para si próprio(a). Como eu já antecipei, a vida provavelmente vai bater muito forte em você, durante sua trajetória, e você provavelmente verá amigos e amigas passando antes. Nunca permita que isso diminua a sua autoestima. Ao ver o sucesso de algum(a) conhecido(a), celebre como se fosse a sua vez. Não permita que sentimentos negativos lhe contaminem por dentro. E lembre-se: a sua aprovação depende apenas de VOCÊ. Eu vejo o atual momento de pandemia como um exemplo dessa tenacidade que vocês devem ter, para não perder o foco e nem a autoconfiança. Esses são seus maiores patrimônios. Não deixe que eles sejam subtraídos de vocês, por nada e ninguém"! Parabéns, Guilherme! Aproveito para recomendar o IG do Guilherme, em que ele, de forma bem humana, tem postado várias dicas!
Atendendo ao gentil convite feito pelo Júlio, a quem tanto admiro, venho aqui expor brevemente a minha trajetória até a aprovação no concurso para Promotor de Justiça do MPMG.
Em meu relato, eu quero enfatizar alguns pontos: a idade com a qual passei; o fato de não ter conseguido passar (e tomar posse) em nenhum outro concurso público, antes do MPMG; a importância da autoconfiança; a necessidade de se ter uma blindagem contra interferências externas negativas.
Quanto à minha idade: tomei posse aos 32 anos. Quando conclui o ensino médio, acabei fazendo 3 semestres de arquitetura, até definir que era o Direito que eu queria. Além disso, a faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas (cidade do RS onde sempre morei) tem a duração nada razoável de 6 anos (!!!). Por isso tudo, acabei não passando “antes dos 30”. Sei que muitos se angustiam ao romper a marca dos trinta sem ter sido aprovados. Para tranquilizar quem assim pensa, destaco que a grande maioria de meus colegas agora Promotores tem mais de 30 anos. Há um colega meu, em especial, que tem 41 anos. E estamos todos realizados. Temos algumas décadas de MP pela frente. Pense nisso, antes de encanar com a idade.
Quanto ao segundo ponto, também sei que muitos se angustiam por não ter “currículo” de aprovações prévias. Sei (por experiência própria) que o fato de não passar em nenhum “concurso-escada” pode aumentar a pressão para o “concurso-fim”. Eu mesmo senti essa pressão. Meu objetivo sempre foi ser Promotor de Justiça, mas fui fazendo alguns outros concursos no meio do caminho, sendo que não logrei obter a nomeação em nenhum deles.
Peço licença para contar, brevemente, como foi essa trajetória.
Ela começou em 2015, ano em que fui fazer uma pós graduação na FMP/RS. Costumo dizer que aquele ano não representou meu início nos concursos. Ali, eu pensava mais em curtir a nova fase da minha vida e assistir às aulas do curso. Aos finais de semana, não dispensava sair com os amigos para a noite. Até fiz alguns concursos (AGU, PFN e Procuradorias Municipais da Grande POA), sem chegar perto da nota de corte. Foi em 2016, com a prova de validação do curso preparatório, que comecei a estudar de fato. Só que as coisas não correram como eu imaginava.
Do alto de minha ingenuidade, eu imaginava que o fato de ter sido aprovado de primeira na OAB, ainda em 2014, e de ter passado na prova de validação do preparatório, era o suficiente para me permitir obter uma aprovação em concursos. Em 2016, ao fazer meu primeiro concurso de MP (MPGO), percebi o quanto ainda faltava para que eu chegasse em um nível competitivo: Fiquei a mais de 10 pontos da nota de corte. Em seguida, veio o MPSC e, junto com ele, um fracasso estrondoso, ficando muito longe do corte.
Consegui minha primeira aprovação em objetiva quando eu percebi que tinha de me obrigar a ler a lei seca e resolver muitas questões. Isso foi em 2017, ano em que passei para a segunda fase dos concursos da PGM/POA, TJSC, MPRS e MPMG. Ali, percebi um novo desafio: a prova escrita.
Ainda que eu tivesse feito 6 anos de faculdade apenas com provas discursivas, e que não tivesse ficado em nenhum exame (provão), minha prova subjetiva estava muito insuficiente. Faltava a menção a artigos de lei correspondentes a institutos doutrinários, citação de fundamentação de julgados e até qualidade na minha caligrafia (em 2017 eu ainda fazia letra de forma!). Fui corrigindo isso tudo mas, ainda assim, a vitória não veio.
Em 2018, novas derrotas na prova discursiva: MPMG, TJMT e TJMG, sendo que o primeiro foi uma derrota muito dolorosa para mim, já que eu investi muito naquela preparação. Não bastasse, eu ainda amarguei uma reprovação na objetiva da PGM de Curitiba. O ano de 2019 veio e, com ele, o início de um período que quase redundou em minha desistência. Nesse ano, passei para a segunda fase do MPPR mas, por problemas familiares, não pude fazer a prova escrita. Na sequência, amarguei derrotas na objetiva do MPSP e MPSC. Para compensar, obtive uma aprovação em uma pequena Procuradoria Municipal do RS, para a qual não fui chamado (e me serviu apenas como título, no MPMG). Como eu não tomei posse nesse cargo, eu o desconsidero, para fins desse relato. Enfim, o peso de não ter passado em nada aumentou a ponto de eu aceitar um cargo comissionado como Assistente do MPSC. Naquele momento, eu havia jogado a toalha.
Essa série de reprovações em provas subjetivas havia posto em xeque minha autoestima. Eu me julgava incapaz de alcançar esse sonho e, por isso, cheguei a me conformar que aquilo tudo não era para mim.
Foi minha mãe que me impediu de desistir, me alertando para a então abertura iminente do MPGO e MPMG, e inclusive comprando passagens e hotel para mim. No 2º semestre de 2019, já trabalhando como Assistente do MPSC, fiz ambas as provas objetivas e logrei a aprovação nas duas. Com o retorno à segunda fase, a esperança também voltou. Reprovei no MPGO, mas consegui a tão sonhada aprovação na 2ª fase do MPMG, empatado com o segundo lugar geral. A partir daí, a confiança me embalou de tal forma que tudo convergiu para a minha aprovação final em terceiro lugar, mesmo em meio à pandemia, em uma prova transmitida de forma inédita ao Youtube, para todo o Brasil.
E aí eu entro no terceiro ponto: você não precisa passar em outros concursos, para ser capaz de obter a aprovação em concursos de alto nível. O que você precisa, acima de tudo, é ter autoconfiança. Uma frase que sempre admirei muito é a de que “tudo que você precisa para vencer está dentro de você”. E é verdade. Não há nada mais poderoso do que a certeza de que somos capazes de obter a vitória, e que a aprovação é uma questão de tempo. Para isso, devemos acreditar em nosso potencial. Se você tiver ao seu redor algum familiar (como eu tive) ou amigo que possa despertar esse sentimento em você, melhor. Mas se não tiver, tudo bem. Você deve sempre manter a autoconfiança intacta.
Sei que parece clichê, mas se você fizer esse exercício diário, de internalizar que você é especial e capaz, independentemente do que aconteça ou do que as pessoas ao seu redor digam, eu tenho certeza que verá a diferença. A nossa trajetória é mesmo muito árdua e põe à prova nossa autoestima. Somadas às reprovações, as inúmeras renúncias e abdicações, aliadas a não raros afastamentos de amigo(a)s, namorado(a)s e familiares só dificultam ainda mais esse processo. Mas, acredite em mim: a autoconfiança vai te guiar e proteger contra esses perigos do nosso caminho. E é também a autoconfiança que vai te blindar contra influências negativas externas.
Quanto a esse último e derradeiro ponto, especialmente agora, em tempos de pandemia, com a suspensão de concursos, eu gostaria de concluir meu relato com algumas mensagens. A primeira é para que você nunca deixe de olhar para si próprio(a). Como eu já antecipei, a vida provavelmente vai bater muito forte em você, durante sua trajetória, e você provavelmente verá amigos e amigas passando antes. Nunca permita que isso diminua a sua autoestima. Ao ver o sucesso de algum(a) conhecido(a), celebre como se fosse a sua vez. Não permita que sentimentos negativos lhe contaminem por dentro. E lembre-se: a sua aprovação depende apenas de VOCÊ. Eu vejo o atual momento de pandemia como um exemplo dessa tenacidade que vocês devem ter, para não perder o foco e nem a autoconfiança. Esses são seus maiores patrimônios. Não deixe que eles sejam subtraídos de vocês, por nada e ninguém.
A segunda mensagem é a de que tudo tem seu tempo. Não adianta tentarmos manipular as coisas para passarmos no momento em que julgamos ser o mais adequado. Eu cometi esse erro no MPMG, em 2018, e o trauma daquela derrota (depois de um investimento altíssimo no concurso) me ensinou que só temos controle sobre uma parte dos fatores envolvidos em uma aprovação em concurso público. Podemos – e devemos – nos preparar sempre, para que possamos elevar nossa probabilidade de sucesso ao máximo. Contudo, não devemos esquecer que o resultado final sempre dependerá de fatores alheios às nossas forças. Portanto, não tente manipular o destino. Faça a sua parte, apenas isso. O resultado virá a seu tempo. Acredite.
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