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Bom dia, meu nome é Flávio Barreto Feres e tomei posse no LVII Concurso para Promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais.
Eu estudo especificamente para concursos públicos do Ministério Público e Magistratura desde fevereiro de 2016, logo após eu fazer minha primeira prova de carreira, que foi o TJDFT-2015 (aplicado em 10 de janeiro de 2016). Com a aprovação em julho de 2020, temos aí 4 anos e alguns meses na labuta específica. Antes disso, eu estudava para prova de analista dos tribunais e do MPU.
Eu fui aprovado para o cargo de Técnico Administrativo do MPU no concurso de 2010. Naquela época, eu estava no 4° semestre (segundo ano) da faculdade de direito (UniCeub – Brasilia). Foi um concurso que eu fiz meio sem vontade, forçado pelo meu pai, apenas porque eram mtas vagas (falavam em 5.000 nomeações). Mal sabia eu que foi a melhor decisão que eu já tomei e até hoje sou muito grato ao meu pai (jovens, escutem a sabedoria dos seus pais!!). Desde 2008 meu pai insistia para que eu fizesse um concurso de nivel médio para ter meu sustento na vida, mas apenas em 2009 eu realmente segui o conselho haha.
Desde a faculdade eu sempre tive o sonho de ser juiz de direito ou promotor de justiça. Embora sejam carreiras com perfis bem distintos, eu sentia que ambas ecoavam em mim, ou seja, eu me vislumbrava satisfeito nas duas, uma vez que, cada qual a seu modo e dentro dos seus papeis institucionais, permitiam a atuaçao voltada a defesa do direito e da sociedade da qual eu sonhava participar.
Ocorre que eu tinha a incorreta ideia de que haveria uma escadinha a ser subida: primeiro eu passaria para analista e estudaria durante os 3 anos necessários de prática jurídica para, então, ser aprovado para juiz ou promotor. Esse foi o meu primeiro grande erro: a rigidez irracional de linearidade sem qualquer amparo na realidade.
Eu insisti nesse erro de 2013 (quando me formei) até dezembro de 2015, quando saí da prova de analista judiciário do TJDFT sabendo que não conseguiria a aprovação. Eu havia contratado uma coach e estava arrasado, porque havia estudado muito duro.
Nessa época eu era assessor no TRF1 e tinha uma colega que estudava para a magistratura estadual (hoje ela é juíza no TJPR) e foi quem conseguiu convencer minha cabeça dura a largar essa ideia de escadinha e estudar direto para juiz. “Flávio, quem estuda para juiz também passa para analista”. Conquanto a hiperconcorrencia nesses cargos torne essa frase equivocada, dou graças a Deus por te-la ouvido. Grande liçao aprendida: até um conselho/informaçao imprecisa/ruim pode ser incrivel e verdadeira no contexto certo. A regra para os demais pode nao servir para voce....e vice-versa. A ironia é que eu virei promotor de justiça, mas nunca consegui o cargo de analista hahaha. Algumas coisas simplesmente não são pra vc, mas isso vc só vai saber quando a jornada “terminar”.
Então, em fevereiro de 2016, eu contratei aquela mesma coach, uma juíza que prometia o milagre de que eu já estaria em segunda fase com apenas 6 meses de estudo no método dela (não vou dizer o nome e na época o CNJ não havia proibido essa prática). Seguindo a indicação dela, comprei os livros que seriam minha base e mãos a obra.
Consistia no atualmente conhecido sistema de revisões: leitura seguida de revisões de 48h, 1 semana e 1 mês. Eu tinha pressa, porque já queria ser logo juiz no DF e imaginava que assim que se encerrasse o concurso do edital de 2015, eles logo abririam outro. Esse foi o meu segundo grande erro: a pressa e a ilusão de controle.
Não houveram muitos concursos em 2016, então eu estudei sem pressão de editais e relativamente consistente. Como todo mundo que usa esse método, perdi revisões, acumulei matéria e caí no fenomeno “bola de neve”, que lhe é peculiar. Em razao da “pressa”, me cobrava demais por essas falhas e acabava alimentando uma ansiedade contraprodutiva, sem perceber.
Em março de 2017 eu fiz o MPRS-2 (o de outubro havia sido anulado) e tirei um lastimável 48 (no primeiro eu tinha ido melhor, algo em torno de 60). Eu fiquei sem chão de tão decepcionado. Na semana seguinte, já sem confiança alguma, fiz o TJPR e, para minha absoluta incredulidade, tirei 81 (era pra ter sido 83 se eu não tivesse passado duas questões erradas para o gabarito).
Obs: foi nesse concurso que aquela minha amiga do TRF1 passou. Fica a lição: não há necessária linearidade de progressão em provas. Isso tanto é verdade que nesse mesmo ano eu fiz TJSC, TJSP e TRF5 e nao repeti o mesmo desempenho, ainda que demontrasse melhora. Em todos os simulados do MEGE que eu fiz, minha maior nota era 74.
Nesse ponto eu já havia parcialmente abandonado o método de revisões da coach (e a própria coach) e com o estudo de segunda fase, abandonei de vez.
Eu fiz diversas segundas fases: TJPR-2017, TRF5, TRF3, TJRS, TJSP-188. No ínterim dessas provas, colecionei reprovações a rodo em fases objetivas. O método agora era focado em exercícios, lei e algumas revisões da doutrina que eu havia grifado. Troquei um ou outro livro, mas me mantive leal à minha base. Eu também havia iniciado um “caderno de erros”, o qual também revisava.
A leitura da lei seca se tornava mais produtiva para mim quando eu abria o vade mecum na frente do PC no “vade erros” (como eu chamava meu caderno de erros) e acompanhava os dois. Quando eu chegava num artigo do Vade Mecum que tinha anotação no Vade Erros, eu lia com mais atenção oq eu tinha anotado e errado ali. Eu também fazia um estudo ativo de tentar puxar da memória as informaçoes que tinha sobre determinado conceito jurídico, dispositivo e jurisprudencia pertinentes enquanto avançava.
Eu sempre fiquei “preso” numa certa “nota padrao” na primeira fase e em simulados. Eventualmente eu conseguia nota maior nos concursos em que fui para a segunda fase, mas pareciam picos isolados e aleatórios, normalmente no corte. Conversando com colegas e alguns professores dos cursinhos, a dica sempre foi a mesma: exercícios, lei seca e análise dos seus erros. A ficha realmente caiu quando ouvi um relato de uma juiza que foi aprovada em meados de 2010 de que “foi na sexta vez que li o codigo civil que parei de errar nessa matéria”.
Em 2019, depois de reprovar a segunda fase do TJSP, a qual foi enfrentada em um ritmo alucinante, dei-me apenas um dia de descanso e já emendei os estudos. Terceiro grande erro: nao me dar tempo de descansar após concursos intensos (sao aqueles que vc se dedica muito). Não deu outra: reprovei na primeira fase o TJSC e o TJPR.
Diante da falta de perspectivas de magistratura naquele ano e o silêncio de boatos mais eloquentes, eu me lembrei de uma história do Haroldo Dutra Dias (quem é espirita vai saber), juiz do TJMG. Ele disse que sempre havia tentado MP e nunca tinha conseguido, mas, por insistencia de um amigo, fez um unico concurso para juiz...que é o que ele atualmente ocupa. Eu acabei me pegando rindo conjecturando se não poderia estar vivendo a mesma situação, mas em polos inversos. Aqui mais uma lição: se permita, salutarmente, a esse tipo de abertura...vai que esta também é a sua situação?
Como o MPGO e o MPMG haviam sido anunciados, decidi que os prestaria, “sem maior compromisso”. Eu gosto dessa autoilusão haha porque na verdade a gente sempre acaba estudando o melhor que pode. O diferencial é saber que não há aquela autocobrança mais forte. Quis o destino me surpreender, pois passei para a segunda fase em ambos.
Eu perdi a inscrição do TJRJ, no maior lapso de memória da minha vida, então só tinham esses concursos se aproximando.
Como o TJAL, para o qual eu estava aprovado para a segunda fase, foi anulado, então não houve conflito de datas e nem angústia de carreiras: fui fundo no MPGO e no MPMG. Eu sabia que eram concursos com um viés doutrinário forte, entao montei minha estratégia: foquei na revisao da minha doutrina básica. Além disso, tinha consciencia da minha fraqueza em direitos difusos e coletivos, que possuem um peso bem menor para a magistratura, por isso, reforcei a leitura aqui. Por ser ano eleitoral, imaginei que o tema teria boas chances de ser cobrado, ainda que nao houvesse especialista na banca, razao pela qual escolhi abordá-lo por meio da leitura da lei e jurisprudencia e exercicios do QC (existem excelentes comentários postados ali que valem mais que muita doutrina). Além disso, aproveitei que o grande crescimento de lives e webinários para tentar “pincelar” conteúdos novos e trazer robustez ao básico que eu sabia, os quais eu ouvia enquanto pedalava ou corria ou ja estava de saco cheio de ler e escrever.
Outra tática que utilizei foi levantar toda a remissao doutrinária e jurisprudencial que os examinadores cobraram na primeira fase para revisar, especialmente os julgados e questoes mais doutrinárias. Por fim, deixei minha intuiçao me guiar para outras revisoes.
Por óbvio, era impossivel fazer tudo o que planejei, mas pelo menos isso me deu um norte e a segurança de que eu dei o meu melhor.
Fiz a segunda fase do MPGO e saí relativamente confiante de que dessa vez eu consegui aplicar bem as lições dos meus fracassos anteriores. Todavia, após algum tempo, percebi que eu havia esquecido (isso mesmo) de responder a todos os itens de algumas respostas em penal. A autocobrança e o autoflagelo mental foram implacáveis, mas eu ainda tinha muita esperança de que seria possivel a aprovação.
Já no MPMG, que ocorreu em fevereiro, conquanto a prova do grupo I não tenha se apresentado com maiores dificuldades, as minhas respostas estavam bem diferentes das dos demais colegas (o mesmo tinha acontecido no MPGO). O grupo II teve uma questão de peça prática tão complicada e criativa que eu tinha certeza que fizera a escolha errada. Resultado: eu dava por certa a reprovação no MPMG e mantive confiança apenas no MPGO.
A ironia todos já imaginam: reprovei no MPGO e fui aprovado no MPMG. Eis minha primeira prova oral. Eu nunca tinha chegado nessa fase e me senti devolta àquela primeira aprovação para a segunda fase do TJPR em 2017.
Para apimentar as coisas...a pandemia eclode em março de 2020, com redução drástica dos serviços, restrições à aglomerações, adiamento generalizado de provas (TJRS, MPRS, MPSC, etc.) e suspensão do andamento de alguns concursos (TJGO).
Sem querer tomar muito o espaço, mas estudar para a prova oral durante a pandemia é uma experiencia unica que eu não desejo a ninguem haha.
No que se refere ESTRITAMENTE ao MEU estudo posso dizer que prejudicou bastante (entre milhares de outras coisas) o estado generalizado de medo e incerteza, principalmente com o receio de adiarem ad infinitum o concurso. Por outro lado (visto sob o mais puro esforço otimista que teve um papel essencial em me manter equilibrado, dentro do possivel, porque é o que dava pra fazer) é que eventual adiamento permitiria fazer uma revisão mais completa do conteúdo.
A prova oral estava originalmente prevista para junho, mas foi adiada para julho. O MPMG se mostrou extremamente solicito aos candidatos quanto às dificuldades que alguns estavam tendo para obter os documentos necessários à inscrição definitiva. Um agradecimento mais do que especial ao Dr. Cardoso, chefe da equipe médica do MPMG, e ao PGJ Sérgio Tonet que atuaram muito proximo a todos nós, reiterando a vontade do órgão em não prejudicar o candidato que apresentasse sintomas da COVID, independente da solução encontrada, mantendo isonomia com os demais e, ainda por cima, fizeram a primeira prova oral inteiramente transmitida no youtube.
O método de estudo para a prova oral, quanto ao conteúdo, foi parecido com o da segunda fase. Fiz o curso de prova oral do Júlio Cesar e o do MEGE. O Julio trouxe excelentes contributos a minha postura, atuaçao, etc.
Algo que reputo essencial que fizemos foi organizar, entre os candidatos, um grupo de treinos. Nos reuniamos quase diariamente, em duplas, para treinar questoes que encontravamos de provas anteriores, outro concursos de MP, nos revezando entre examinador e examinado.
Entendo que nenhum cursinho seja estritamente essencial e guarde a chave para a aprovaçao, mas o treino consistente e quase diário foi uma constante da minha rotina e dos demais candidatos com que tive o prazer de trocar ideias sobre nossas jornadas. Esse é o principal da fase oral: treino. Alguns preferiram fazer apenas os treinos apenas com alguns colegas, outros o fizeram com namoradas/noivas/esposas/sogro. Outros, como eu, preferi fazer num grupo grande em que organizavamos as duplas para o decorrer da semana.
Eu fiquei muito longe estar entre as melhores notas, mas até quem ficou lá afirma a mesma coisa. Treinar com os colegas tem o incrivel papel de exercitar a explanacao de conhecimento, o qual, se vc nao tivesse, nao teria chegado até aqui. Ademais, o curto bate papo pós treino durante o feedback é otima oportunidade para amenizar a ansiedade vendo que todos estao no mesmo barco e partilhando estratégias.
Por fim, cá estou aprovado, na correria do curso de formação. Aos concurseiros, aconselho que estudem, tenham resiliência, porque de uma hora para a outra o seu sonho pode se realizar e de maneiras inesperadas, mas todas elas perfeitamente desenhadas para vc. Vão haver muitas injustiças com suas notas, bancas examinadoras avacalhando concurso e vcs vão se sentir abandonados ao verem colegas passando mais rápido ou sofrendo menos (na sua visão) para chegar lá. Apesar disso tudo, não desistam. Mantenham a fé na sua capacidade e saibam que enquanto vcs persistirem inevitavelmente, inelutavelmente, invariavelmente, vcs vão conseguir.
No momento que vc decide não desistir o universo te escolhe uma aprovação lá no futuro e fica esperando ansiosamente esse dia, tanto quanto vc, não tenham dúvida: o lugar de vcs já foi escolhido e os aguarda, cheio de demandas e questões prontas para receber a sua solução.
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