Trajetória nos concursos - Por Yasmine Lopes

By | junho 13, 2020 Leave a Comment



Trago hoje a trajetória de Yasmine Lopes (@prof.yasminelopes), advogada pública e aprovada em diversas procuradorias. O ponto destacado por Yasmine é - sempre insisto - muito ignorado: a saúde mental nos concursos. Yasmine reconhece que chegou ao seu limite, sendo diagnosticada com "sindrome de burnout"! O equilíbrio em tudo na vida é fundamental. Nos esportes é conhecida a expressão "Sprint Final", que só tem sentido no final, e não como constante. Ninguém suporta uma dose de intensidade e exposição longas demais por frequência enorme. Parabéns pela humanidade e sinceridade, Yasmine! Que sua experiência sirva de alerta para muita gente! 

Olá pessoal! A pedido do querido Julio Cesar Almeida, vim contar-lhes acerca da minha trajetória nos concursos públicos, e aproveitar para fazer um alerta sobre saúde mental durante a preparação, pois, como saberão mais a frente, essa maratona de provas que realizei sem buscar equilíbrio, me trouxe aprovações, mas também problemas de saúde. Quero que esse relato lhes sirva de estímulo, bem como de reflexão.

Em meados da graduação decidi participar de alguns certames de nível médio e consegui algumas aprovações, tendo sido nomeada no concurso de Técnico Judiciário do Estado de Pernambuco e no Processo Seletivo para Conciliador do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas.

Infelizmente a nomeação no TJ/PE não me foi comunicada, e perdi o prazo para posse. Mas a vida (atribuo, na verdade, à vontade de Deus) me surpreendeu logo em seguida com a nomeação no TJ/AL, onde iniciei os trabalhos quando estava no 7º período da faculdade e fiquei durante 4 anos.

Cheguei a advogar por um tempo, mas sabia que “ali não era meu lugar”; sabia que o serviço público era, de fato, o meu verdadeiro sonho, e dei início, em 2015 à preparação para os concursos da Advocacia Pública.

No mesmo ano saiu o concurso da PGM/Salvador. Tive dúvida. “Com 4 meses de estudo, realizar essa prova de nível alto e reprovar pode me desanimar?”. Me inscrevi, prestei o concurso, e reprovei FEIO.

Mas valeu a pena. Serviu de alerta e combustível. Ali eu decidi: preciso me dedicar muito, estabelecer metas, fazer renúncias e entender que o conhecimento se consolida com o tempo. A velha máxima de que “a pressa é inimiga da perfeição” se aplica a qualquer setor de nossas vidas.

Pois bem. Cronogramas montados, materiais em mãos, dedicação diária. Jornada de altos e baixos, reprovações, aprovações, muito a comemorar.

Ocorre que preciso narrar algo importante, pois, como disse, a falta de equilíbrio me trouxe consequências severas, e quero que essa história alcance diversas pessoas e previna contra problemas de saúde mental.

Quando tomei a decisão de direcionar meus estudos para as provas da Advocacia Pública, fui radical. Pensei: “irei viver em função disso e só saio desse quarto aprovada”. E assim fiz! O dia das pessoas normalmente começa com banho, café da manhã e, apenas em seguida, se iniciam as tarefas do dia. Eu? Iniciava o dia estudando, e quando dava fome, por volta das 8h, me alimentava (com pressa e estressada, jurando estar perdendo tempo - sim, contava mentalmente "tenho 30 min para comer, pois preciso terminar o PDF antes das 11 para iniciar a meta da tarde às 13"). Almoços? Nunca sentada com a família, sempre pegava o prato e levava para o quarto, ia lendo algo enquanto comia. Sair com os amigos? Jamais! Iria atrasar o cronograma de metas de estudo.

Meu lazer era estudar. Eu amo o Direito e cada dia me aprofundar e me deixar mais perto da aprovação me satisfazia (ao ponto de não enxergar que no futuro eu pagaria uma conta alta).

Lembro das inúmeras vezes em que meu pai batia na porta do quarto querendo me contar algo e eu dizia: "Painho, tô estudando, fale rápido" ou "Assim que acabar de ler aqui saio e o senhor me conta". 

Lembro das inúmeras vezes em que minha mãe levou o prato do almoço para o quarto, porque eu nem me dava conta de a hora passar e ela, preocupada, levava a comida para a mesa de estudos. 

Bem, a conta a ser paga chegaria em algum momento, certo? E chegou. Exatamente no dia 18/11/19. Iniciou com uma dor de cabeça enquanto estudava para um concurso que faria duas semanas depois. Ficou mais forte, vieram náuseas, enxaqueca, pressão subindo, tremores e calafrios, aceleração cardíaca, vômito e diarreia. Foram 3 dias de idas e vindas em emergências. Todos suspeitavam e me medicavam como se fosse uma crise de ansiedade.

Aconselhada por familiares médicos e também alguns amigos, decidi buscar um psiquiatra, pois o quadro se agravava e eu já não conseguia comer, minha cabeça estava uma loucura, tinha certeza que iria morrer.

E pelo psiquiatra fui diagnosticada: esgotamento mental (famosa Síndrome de Burnout). As férias que eu sonhava pós posse, agora são férias forçadas, medicação controlada e longe do meu vício: o estudo.

Aprendi que a vida deve ser equilibrada. Você pode (deve) se dedicar aos estudos/trabalho, mas DEVE ter lazer, estar próximo de teus familiares e amigos (a vida é um sopro e podemos perdê-los a qualquer momento) e, principalmente, cuidar da saúde física e mental.

Sabe o que eu pensava na cama do hospital? "Deus, foi tudo em vão? Morrerei sem tomar posse" ou "se me nomearem agora nem poderei colher os frutos do que plantei". É, Yasmine, plantio parcialmente deficiente, pois faltou lembrar que o concurso não é a sua vida, é apenas uma das partes dela.

Quero então, pedir a você, leitor, que estude/trabalhe, mas VIVA! Leia, mas faça exercícios. Cumpra as metas, mas se permita dias de folga. Estude, mas se perdoe quando acordar num dia desanimado e preferir descansar para retomar no dia seguinte. O cronograma VIDA, vale mais!

Aqui agradeço à Equipe @procuradoriagu, da qual faço parte como professora, pois além do serviço público, meu sonho de lecionar se concretizou. 


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