Trago hoje a trajetória do Julian Fleury Rocha, aprovado, em 2019, para promotor do MPBA. Com humildade, Julian lembra que sempre enfrentou, enquanto estudante, provas finais e que, apesar disso, conseguiu dar a volta por cima, superando diversas reprovações e obstáculos (como falar em público). Isso é bem interessante para desconstruir a ideia difusa de que todos os aprovados são pessoas com enorme facilidade e que nunca enfrentaram dificuldades na jornada. Como bem disse o Julian, "nada vence a determinação e a persistência. Sempre é tempo de começar de novo, mesmo que seja tudo do zero"! Agradeço pelas palavras e parabéns pela jornada, Julian!
Venho a convite do grande Mestre Julio Cesar de Almeida contar um pouco da minha trajetória até a aprovação para o Cargo de Promotor de Justiça do Ministério Publico do Estado da Bahia, no final do ano de 2019 (após 6 anos e 8 meses de preparação).
Dando inicio a minha trajetória, gostaria de pedir licença para voltar rapidamente lá para minha infância. NUNCA fui um bom aluno. Desde o inicio do ensino fundamental até o final do ensino médio tive inúmeros problemas com os estudos. Não me recordo de uma vez sequer que nao tenha ficado até metade de Dezembro estudando para as provas de recuperação. Todo ano era assim. Não acredito que tenha sido déficit de inteligência ou capacidade intelectual, mas a questão da concentração, atenção e da falta de consciência acabavam por me colocar em tais situações. Sofri algumas vezes com isso, a ponto de ser taxado de burro por alguns colegas e por uma professora do Ensino Médio.
Enfim, fui para faculdade particular cursar Direito e, como um bom procrastinador, levei com a barriga os 5 anos regulares do Curso de Direito. Não fiz estágios, não estudei corretamente, não me dediquei a contento. Foram 5 anos de inúmeras provas finais, dependências, etc...
Em Julho de 2011 me formei (sem mesmo saber fazer uma petição inicial, rsrsrs...), prestei o Exame da Ordem, no qual fui aprovado na primeira oportunidade. Ali vi que eu era sim capaz de enfrentar desafios e que poderia advogar. Em 2012 iniciei como advogado trabalhista em um escritório, mas 1 mês depois fui demitido. No mês seguinte fui contratado para um escritório de causas cíveis, no qual trabalhei por pouco tempo até entender e perceber que não era aquilo que eu queria. Paralelamente, meu irmão estava sendo aprovado para o Cargo de Promotor de Justiça no Paraná, o que despertou em mim e no meu pai, sempre presente, o interesse em iniciar uma jornada de estudos de 3 anos (bom se tivesse sido só isso) para ingressar em uma das Carreiras Jurídicas mais importantes (Magistratura, MP ou Defensoria Publica).
Assim, o inicio da minha vida de “concurseiro” foi em Março de 2013, por meio de videoaulas do curso LFG. Problema: eu não tinha a mínima noção do que era estudar para um concurso publico do gabarito dos quais eu queria. Além disso, não havia tanta informação como há hoje no sentido de “ensinar” o que é importante para lograr êxito nas provas. Nos dois primeiros anos, por exemplo, pouco li a tão necessária “Lei Seca”. Assistia às aulas e depois só revisava o próprio material de anotação. Com isso, no primeiro concurso prestado para Promotor do MPPR, fiz míseros 41 pontos, dos 66 necessários a classificação para a segunda fase, em 2014. Voltei a me sentir incapaz. Chegava a chorar ao ver alguns assuntos mais teóricos que achava que nunca entenderia (métodos de interpretação constitucional, por exemplo).
No entanto, mantive a calma, a determinação e a esperança de que um dia eu conseguiria. Via minha evolução a cada mês, a cada prova feita. A cada ano que passava (2014, 2015, 2016) sentia um pouco mais que dava, mesmo nunca passando em primeiras fases. Contudo, em 2017, depois de ter entendido um pouco do processo que era prestar concursos públicos é que vieram os primeiros resultados positivos em provas objetivas (DPE – PR e MPPR). Agora vai! Ledo engano. Percebi que não bastava estar bem em provas objetivas, tão somente. Faltava uma base mais forte, um aprimoramento doutrinário em algumas matérias. Apostei nisso e me dediquei bastante em matérias maiores. Aumentei minha carga diária de estudos. Se lá no inicio da preparação eu não conseguia sentar e estudar por 2 horas diárias, a partir de 2018 eu só parava para almoçar e fazer atividades físicas. Chegava as 10 horas da manha na sala de estudos e saía meia noite, com pausas para o almoço e academia. Criei gosto e necessidade pelo estudo. Os resultados começaram a vir mais facilmente, mormente em primeiras fases.
Depois das reprovações me entristecia, culpava o sistema, o examinador, Deus, o mundo todo. Mas não passava 1 semana e retomava tudo de novo, por ver que estava cada vez mais chegando perto. E é assim que tem que ser. Desistir não pode estar nos nossos planos, um dia nossa hora chega. A titulo de curiosidade, são algumas reprovações: 2 DPE-PR, DPE-SC, 4 MPPR, 2 TJPR, 1 MPGO, 1 MPRS, 2 MPSP, 1 MPSC, 1 MPMG, 1 MPRJ, entre outros concursos diversos.
Enfim foi em 2019 que o triunfo veio. Não sem boas pitadas de sofrimento. O MP da Bahia abriu edital de seu concurso para promotor em Janeiro de 2018, para aplicação de provas no mês de Abril. Fiz uma boa prova de primeira fase e pontuei 7 pontos acima do corte. Já estava me preparando para a segunda fase que ocorreria naquele ano de 2018 quando nos deparamos com a noticia de que a prova preambular seria anulada e reaplicada. O ano passou e somente em meados de Dezembro de 2018 a prova foi reaplicada. Graças a Deus consegui pontuar o necessário para ir a segunda fase (que seria aplicada já em Março de 2019). Nesse interin, em meio ao Natal e Reveillon estava me preparando para a primeira fase do MPPR que foi aplicada em Janeiro. Estudei dias 24 e dia 31 de Dezembro até as 18 horas, inclusive.
Começou o ano de 2019 com bom resultado na primeira fase do MPPR, mas com a reprovação na segunda fase por pouquíssimos pontos. Sofri, chorei, mas segui a vida, pois tinha ainda o alento de poder fazer uma bela prova na Bahia. Persistência. Chegou março de 2019 e com ele a esperança de ter êxito no concurso Baiano. Foram 4 dias de provas escritas. Sai de todas elas decepcionado e triste, com a certeza de que mais uma reprovação viria. A dificuldade foi enorme. Abstrai este concurso e fui logo me preparar para outros que viriam. Surpresa: em Setembro de 2019 fui informado por um amigo da aprovação para a prova oral, juntamente com outros 70 colegas. Que dia! Que emoção! Nunca imaginava que esse dia iria realmente chegar. Fui a 12º melhor nota entre 800 candidatos que prestaram a segunda fase. Era, então, a grande oportunidade da minha vida.
Com a prova marcada para dali 1 mês e 15 dias, encontrei no Julio Cesar a oportunidade de me preparar para uma prova oral. Raras vezes falei em publico. Até mesmo me escondia para não falar. Mas agora era hora de acreditar em mim e provar que eu conseguiria. Treinei todos os dias presencialmente com um colega, com a minha noiva, com amigos via Skype. Quanto ao curso do Julio, ele nos da a devida calma e confiança de que prova oral não é aquele bicho papão e que supera-la é possível.
25 de Novembro de 2019 (quase 2 anos pós edital e após 6 anos e 8 meses de preparação): APROVADO PARA PROMOTOR DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA. Foi um mix de sensações de dever cumprido, de inflação do ego, de orgulho próprio, mas acima de tudo de GRATIDAO. Gratidão por ter superado todas as dificuldades e medos que levava comigo. Gratidão por ter tido em minha vida a parceria da minha Noiva (que teve que aguentar um companheiro super ausente), do meu irmão (que me ajudou principalmente nos momentos de aflição) e dos meus pais (que sempre acreditaram e apostaram todas as fichas em mim).
A grande lição que tiro de tudo isso é: nada vence a determinação e a persistência. Sempre é tempo de começar de novo, mesmo que seja tudo do zero como tive que fazer após terminar o Curso de Direito.
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