Dando aulas para a prova oral, percebo que a regra absolutamente geral é o candidato ter a sensação de que é uma grande fraude. Muitos alunos relatam, inclusive, que sempre acharam que “quem estava na fase oral sabia de tudo”, mas com eles "não era assim". O que, dizem, só reforça que "são, de fato, uma fraude".
Com esse pensamento, passa-se a superestimar a concorrência, diminuindo-se muito! Mas é possível dizer que genialidade é condição para ser aprovado? O mero fato de ser aprovado para o cargo de juiz, superando várias fases e anos de estudo, por si só, indica que juízes são mais brilhantes que advogados, já que o exame da OAB é comparativamente mais simples? Evidentemente que não!
O concurso pressupõe habilidades específicas, em especial organização (para estudar tantas coisas ao mesmo tempo), persistência e disciplina. Uma pessoa que tem dificuldades com projetos de maior prazo dificilmente terá êxito em concursos públicos. Isso não a torna menos brilhante. Apenas revela que ela não domina, ao menos aqui e agora, as habilidades exigidas em concurso público.
O saudoso Calmon de Passos, importante processualista baiano, disse certa vez que estudar para concurso é “emburrecimento”. Sem entrar no mérito do tema – que não é o foco aqui -, o “emburrecimento” a que se referia pode ser sintetizado em (i) pensamento excessivamente dogmático (o concurso, em regra, não admite muitos questionamentos, em razão do imperativo de impessoalidade decorrente de "espelhos") e (ii) com muita memorização.
Os aprovados, então, NÃO são necessariamente pessoas criativas e que têm uma leitura aprofundada em diversos temas, mas pessoas que sabem pensar dogmaticamente e lidar com monotonia. O ato de conversar com aprovados pode ajudar muito nisso, assim como a leitura de relatos de aprovados: são pessoas com inseguranças e reprovações... e que persistiram.
Nesse sentido, penso que a crença de que aprovados são gênios tem efeito ruim de diminuir a nossa eficiência no presente. Além disso, acaba por romantizar as habilidades exigidas para a aprovação em concursos públicos, como se dependesse de uma capacidade supernatural de ter memória, criatividade ou raciocínio.
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