Fases do concurso - Prova oral - Parte 7 - O desconforto da exposição e do julgamento

By | dezembro 30, 2019 Leave a Comment

Existe um costume pedagógico de DISSOCIAR o ato de fazer um exame do ato de valorar o exame, ou seja, a execução da prova é anterior ao ato de atribuição de nota. Por ex., nas escolas e nas faculdades de direito, é bem comum a aplicação de uma prova, seja subjetiva, seja objetiva, que será levada pelo(a) professor(a) para corrigir depois. Isso cria uma zona de conforto para as duas partes: (i) para o aluno, que tem maior tempo para pensar e voltar atrás na execução; (ii) para o professor, que pode, com calma, valorar, sem expor eventual desatualização/imprecisão que seria evidenciada se agisse de imediato.

Essa ZONA DE CONFORTO, consubstanciada na INVISIBILIDADE do ato de FAZER a prova e do ato de VALORAR a prova, se reflete na atuação profissional de muitos operadores do direito, que preferem fazer atos escritos, mesmo quando a regra, em muitos procedimentos, seja a oralidade.

O oposto consiste na (i) VISIBILIDADE do ato de fazer o exame (ii) SEM a possibilidade de rascunhar-esquematizar e (iii) COM valoração pelo examinador CONCOMITANTEMENTE, como ocorre nas provas orais. O examinador não vai levar a prova para casa para escutá-la/assisti-la novamente: vai formando seu juízo de valor durante a arguição, atribuindo, de imediato, a nota em envelope (que, em alguns concursos, já sai lacrado). A ausência de COSTUME de lidar com esse cenário tende a gerar desconforto e a sensação de vulnerabilidade. Há, na prática, um "CONSTRANGIMENTO PEDAGÓGICO".

Quem, por ex., já fez teatro tende a lidar melhor com isso, porque tem maior costume com o julgamento imediato, com as reações do público. A defesa da monografia e o exame prático da autoescola são exemplos de poucas situações nas quais ocorre essa avaliação concomitante. 

Se a causa do desconforto é a não exposição, a solução é óbvia: eliminando a causa, desaparece o efeito (sublata causa, tollitur effectus), ou seja, é necessário se expor. Em outras palavras, é essencial TREINAR. No início, a pergunta mais trivial incomoda. Depois, superado o desconforto com essa técnica pedagógica de valoração concomitante, as perguntas mais complexas passam a ser mais audíveis. 
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