Trago a trajetória de Maurício da Cruz Rossato, aprovado para juiz do TJMG (2019). O caminho do Maurício é emocionante, pois teve que conciliar com dramas familiares - felizmente superados - e com o autoconhecimento. Sobre o tema, é interessante registrar o que Maurício concluiu após fazer terapia: "percebi que não precisava estudar mais horas ou mudar minha forma de estudar, mas que eu precisava me conhecer melhor e enfrentar essa situação". Às vezes o déficit de desempenho não está no pouco domínio dos conteúdos, mas sim em fatores psicológicos. Obrigado e parabéns pela trajetória, Maurício!
Meu nome é Maurício da Cruz Rossato, tenho 31 anos e, recentemente, fui aprovado no concurso para a Magistratura do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
Desde criança lembro de falar que gostaria de ser Juiz para ajudar as pessoas, mesmo sem nada entender sobre as atribuições do cargo e como era o caminho para alcançar uma vaga nessa concorrida carreira. Desde sempre tive o apoio dos meus pais, professores (hoje aposentados), que, sempre se esforçando muito, nunca deixaram faltar nada e que diziam “para os estudos a gente dá um jeito”.
Durante a faculdade estagiei em um escritório de advocacia e no Ministério Público, o que me fez definir: queria realmente seguir a carreira na Magistratura.
Apesar de ter o objetivo definido, não iniciei minha preparação para os concursos ainda na faculdade. Gostava de estudar, porém lia as obras clássicas e as indicações dos professores, algo que hoje eu mudaria, no sentido de conciliar com estudos voltados aos concursos, com uma leitura específica de informativos, “lei seca” e realizando algum curso específico.
Poucos dias antes da minha formatura, em dezembro de 2011, recebi a oferta de uma vaga de Assessor Voluntário de Juiz de Direito, a qual prontamente aceitei e iniciei alguns dias após minha formatura. Pouco tempo depois consegui uma vaga de assessor remunerado, fiquei muito feliz de conseguir trabalhar dentro de um fórum tão cedo.
Entre remoções e exonerações a fim de conseguir ficar mais próximo da minha namorada (hoje noiva), percebi que não estava conseguindo conciliar os estudos com o trabalho e que os resultados nos concursos que realizava não eram os esperados, logrando êxito apenas em concursos que não eram o meu objetivo.
No dia 03 de outubro de 2016, após juntar um dinheiro que considerava suficiente para me sustentar por algum tempo e contar com o apoio da minha família e da minha noiva, pedi exoneração do meu cargo e passei a me dedicar integralmente aos estudos.
A evolução dos estudos apareceu após um ano, fui aprovado na primeira fase do TJSC, mas reprovado na prova discursiva, a experiência foi muito importante, vi que precisava melhorar ainda mais, aprimorar meus estudos.
Após essa prova, fiz muitas outras em que fiquei por 1 ou 2 pontos do corte, comecei a pensar que estava estudando errado, além disso, meu dinheiro estava acabando, o que trouxe um novo desafio, a ansiedade, que me impediu de dormir na noite anterior a três concursos, dentre eles o que eu mais desejava, o TJRS.
Ocorrido esse episódio comecei a fazer terapia, com a qual percebi que não precisava estudar mais horas ou mudar minha forma de estudar, mas que eu precisava me conhecer melhor e enfrentar essa situação.
Pouco tempo depois, cerca de um mês antes da primeira fase do concurso do TJMG, recebi uma ligação da minha mãe, meu pai havia sido diagnosticado com câncer e precisava fazer uma cirurgia o mais rápido possível. Nesse momento deixei de ser concurseiro e passei a ser exclusivamente filho, o objetivo agora era buscar o melhor tratamento e ficar com a minha família.
Realizada a cirurgia, meu pai se recuperou muito bem, eu estava com a passagem comprada, fui fazer a primeira fase e passei. Uma semana antes da segunda fase do concurso meu pai precisou fazer outra cirurgia, novamente ele superou, e eu passei na segunda fase do concurso. Após isso foram doze sessões de quimioterapia que meu pai, sempre na companhia da minha mãe, enfrentou bravamente, quando ele, finalmente, recebeu alta.
Eu prometi a mim mesmo que lograria êxito na prova oral, pois se meu pai havia conseguido enfrentar um desafio tão grande, eu também conseguiria superar o meu e, no dia 20 de julho de 2019, fui aprovado na prova oral.
Nessa lida dos concursos cada um será desafiado de uma forma diferente, é muito importante aprender com os tropeços e com as dificuldades a fim de evoluir, como estudante e como pessoa, para alcançar o objetivo almejado.
Para mim, foi necessário aprender a colocar as coisas em perspectiva, observar que a aprovação em um concurso era sim importante, mas que há na vida coisas muito mais relevantes. Que os concursos são difíceis, mas que outros enfrentam dificuldades muito maiores. E que não é preciso ter pressa, porque quem persiste um dia alcança.
Aos que estão estudando: sejam perseverantes, trabalhem com afinco, tenham paciência, insistam no seu sonho, não duvidem de si mesmos e não deem ouvidos aos que duvidarem de vocês. Ao final de tudo, vale muito a pena.
Excelente e motivador. Parabéns pela aprovação, Excelentíssimo Senhor Doutor Maurício da Crus Rossato. Incentivou-me ainda mais para manter o foco nos estudos e na terapia.
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