Hoje trago a trajetória do Pedro, que ficou em 1º em todas as fases da PGE SP. Muitos acham que os primeiros colocados têm absoluta certeza da aprovação, com caminho sempre seguro e linear. Na verdade, existem, sim, a insegurança e a adaptação. Li os posts do Pedro, me identifiquei muito e fiz o convite - que ele aceitou gentilmente - para escrever aqui. O relato evidencia que ele seguia a intuição e executava. Confiava nas percepções até então formuladas e partia para a ação. Não dando certo, criava novo rumo. E fez isso algumas vezes. Uma invejável habilidade de diagnóstico e reação. Saiu, por diversas vezes, da zona de conforto, como fez ao desistir do curso de Engenharia. Como bem disse o Pedro, "o acerto nada mais é do que um erro bem aproveitado". Ele viveu cada opção e resultado com muita intensidade, o que demonstra a capacidade dele de mergulhar em tudo o que faz: desde o blog sobre programação cultural no RJ à intensidade nos estudos para cada concurso, sem, em nenhum momento, se limitar àquilo que o mercado dava como pronto e acabado. Parabéns e muito obrigado mesmo, Pedro! Uma lição de vida!
A
gente nunca sabe ao certo quanto voltar no tempo para contar a história de um
resultado. Por trás de qualquer conquista tem sempre uma vida de coisas que nos
tornaram quem somos e contribuíram em nosso caminho, seja com erros ou
necessários desvios, seja com pequenos acertos que vão se acumulando com a
persistência.
Posso
dizer que errei bastante no meu caminho, no sentido de errar mesmo, mas também
no sentido de vagar por aí, e aos poucos fui percebendo que o acerto nada mais
é do que um erro bem aproveitado. Hoje, vou contar um pouco de uma parte da
minha história que levou até o resultado que tanto me surpreendeu (e ainda
surpreende) na PGE/SP.
Em
2005, entrei na faculdade de engenharia ambiental, da qual desistiria dois anos
depois. Em 2007, sem saber ao certo o que queria (sabia apenas que queria
humanas, mas que precisaria de uma profissão para me sustentar), marquei “Direito”
no vestibular.
Após
um começo intenso de estudos nas matérias mais filosóficas (a UFF começava
assim), vivi um longo período mais boêmio do que estudioso. Mantinha na época
um blog com dicas da programação cultural do Rio de Janeiro que chegou a ter
mais de 15 mil seguidores. Para vocês não pensarem que isso não pode ser
verdade, acho que ainda é possível ver a página no facebook (Rio Cult).
No
meio dessa boemia, algo me dizia que aquilo não era sustentável e que em breve
eu precisaria daquela profissão que me motivara a marcar “Direito” no
vestibular. Estagiava nessa época na PGE/RJ e decidi que queria ser Procurador,
mas não de qualquer lugar, eu queria ser Procurador do Estado do Rio de
Janeiro.
Essa
decisão me custaria alguns anos de estudos muito “errados”. Tentando me
especializar na banca do concurso, eu lia os artigos do Tepedino antes de ter
lido o Código Civil. Lia os pareceres do Barroso sem nunca (mesmo) ter lido a
Constituição Federal toda.
Paralelamente,
comprei um curso especializado aqui do Rio e achei que, se anotasse tudo que os
professores falavam, um dia teria um caderno que me faria passar no concurso da
PGE/RJ. Eu não sabia o que era importante, nem sabia o que era pura explicação
da letra da lei. Resultado: levava 4 horas para assistir 2 horas de aula e,
depois de muito esforço perdido e algumas questões pessoais difíceis, acabei
fazendo apenas 30% do curso em um ano e ficando quase mais um ano parado sem
estudar.
Decidi
então que nunca mais compraria um curso de videoaulas. Mal sabia eu que no
futuro as videoaulas seriam a minha principal fonte de estudo da vertente “compreensão”,
inclusive para as provas subjetiva e oral. Eu ainda não tinha descoberto a
possibilidade de fazer intensivos quando necessário, acelerando até 2-2,5x, o
que me permitiria nas mesmas 4 horas de antes, assistir a mais de 8 horas de
aula.
Mas,
um dia, cheguei na saudável conclusão de que o Programa de Residência da PGE/RJ
seria um passo razoável no caminho até a carreira de Procurador. Sem edital
aberto, ficava na biblioteca fichando livros vagarosamente. Afinal, “eu
precisaria de no mínimo uns dois anos de leituras e mais leituras para começar
a pensar em passar [para Procurador]” - um pensamento que significava apenas
uma fuga de enfrentar o desafio, uma verdadeira autoenganação.
Mas
eis que, após uns 6 meses desses fichamentos, quando completei 30 anos, saiu o
edital da residência e uma consciência inabalável veio à tona: “preciso passar
nessa prova”. Olhei as questões passadas e percebi que estava fazendo tudo
errado. Meus resumos eram tão detalhados que em nada me ajudavam na concisão
necessária nas 15 linhas disponíveis para a resposta. E a sensação era de que
eu não sabia responder nenhuma questão. Nenhuma!
A
partir dessa consciência, transformei totalmente os meus estudos em um treino
diário de responder ao máximo de questões discursivas sobre todos os temas do
edital em exatas 15 linhas. Foram cerca de 2 meses assim. Uma urgência bateu em
mim e tudo que eu pensava era no resultado. Comecei a pensar em termos de “15
linhas” razoáveis e fundamentadas sobre qualquer tema e não mais em termos de
saber ou não saber algo.
Com
isso, consegui um resultado maravilhoso, fiquei em 3º lugar na prova.
Depois
da prova da residência, me inscrevi em um concurso pequeno de Procurador de Paraty
e comecei a devorar lei seca pela primeira vez. Resultado: fiquei em torno da
posição 250. Era tão inexperiente que a decepção me fez parar cerca de 3 meses
sem estudar.
Após
a pausa, comecei a residência e fui fazer a prova de Procurador da ALERJ (que
eu considerava absolutamente impossível de passar e fui fazer totalmente sem
acreditar). Então veio uma surpresa: passei para a segunda fase! Acho que se
não fosse uma amiga da residência, a Bia, eu talvez nem tivesse visto que tinha
passado, pois achava que mesmo tendo tirado uma boa nota, ainda era muito pouco
para um concurso impossível como aquele. A segunda fase era divida em três
provas, num período de quase 6 meses. Ainda sem rotina de estudo profissional e
sem valorizar a lei seca, fui passando em todas, mas sempre abaixo dos
melhores. Eu ainda não queria acreditar que era só ter citado o artigo de lei
ou a jurisprudência do espelho para ganhar todos os pontos. Seguia achando que
tinha que ter algum mistério por trás da nota.
Não
tirei o suficiente para chegar na prova oral, mas decidi que, a partir dali,
acontecesse o que acontecesse eu ia ser o primeiro a chegar na biblioteca e ia
descobrir tudo que fosse necessário para alcançar o resultado. E ia estudar
para onde tivesse mais vagas. Passei a mudar tudo que não me fizesse ir para a
frente. Se não gostava de um professor, buscava outro para substituir. Se o
curso reservava apenas uma carga horária ínfima para uma matéria que estava
caindo com profundidade, eu procurava aulas de outras carreiras. Se era para
saber todas as Súmulas e OJs do TST eu lia quantas vezes fossem necessárias. Comecei
a levar a sério a aceleração das aulas. Comecei a ler as leis do início ao fim
e a confirmar a qualidade da leitura com questões específicas de cada tópico do
edital. Passei a revisar os informativos em áudio diversas vezes. Virei um
constante investigador dos meus próprios pontos fracos e, logo que identificava
um, colocava-o como prioridade do dia seguinte.
Foram
cerca de 1 ano e meio de estudos nesse ritmo, todos, mas todos os dias até a
aprovação na prova oral. Quando saiu a notícia da autorização da PGE/SP, as 100
vagas brilharam nos meus olhos. Queria uma, mas apesar de ainda achar que seria
quase impossível, me entreguei de corpo e alma com essa atitude totalmente
focada no resultado. Em cada feriado, em cada jogo do Brasil eu buscava chegar
um pouco mais perto do meu sonho. Tudo isso com muito apoio da minha namorada
que até hoje compartilha os projetos comigo. Ela estudava para o mestrado e eu
para o concurso. Agora ela está quase defendendo sua tese e vamos juntos para
São Paulo, ansiosos pelas primeiras férias que ainda nem tivemos. Tudo valeu a
pena e desejo muita força, foco e fé para quem ainda está nessa jornada!
Linda trajetória! Sucesso, Pedro!
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