Trago hoje a trajetória da amiga Laiz Mello, aprovada no 29º Concurso de Procurador da República, finalizado em 2018. É uma grande felicidade dividir a jornada no MPF com a Laiz. Nós nos formamos na mesma Universidade (UFES) mais ou menos na mesma época e, como ela bem lembrou, havia tempo que dois inscritos no ES não chegavam até a última fase do MPF.
Só fomos nos conhecer trocando mensagens já no meio da correria da prova subjetiva/oral do MPF no 2º semestre de 2018. Não é preciso muito contato para perceber o quão vocacionada é a Laiz para o MPF: nutre uma enorme admiração pela instituição desde a época de estágio, se preparou profundamente para o MPF e, inclusive, honrou os primeiros nomeados do último concurso com a sua presença no evento de posse. E a trajetória da Laiz revela os altos e baixos do estudo para concursos, que, ao contrário do que muitos pensam, não é um local de pessoas com inteligência anormal, mas sim de pessoas esforçadas e disciplinadas. E me emociono lembrando dessa frase que falei para a Laiz após a prova oral, que, por causa da ordem alfabética, fizemos no mesmo turno num domingo chuvoso à tarde na PGR: "acabou, Laiz, nós seremos colegas de carreira!!!"
Minha história com o MPF começou há cerca de 10 anos. Ainda na faculdade, decidi que queria estagiar lá. Entrei em outubro de 2009 e me apaixonei! Saí em 2011, com a certeza de que eu voltaria. Em 08/01/2013, retornei como servidora. Desde então, aprendi muito não só juridicamente, mas como pessoa. Decidi voltar a estudar em 2015 (não lembro ao certo a data), após minha chefe me dizer que eu deveria estudar para o CPR pois gostava das minhas minutas e acreditava que eu conseguiria ser Procuradora da República.
Voltei a estudar sem muito critério e bem perdida (perdi muito tempo com isso, aliás). Fiz o 28 CPR apenas de curtição, sem estudar. Saí dizendo que era impossível e que não dava para mim. Mas... mesmo acreditando sinceramente que era impossível, eu não iria desistir.
Conciliar o trabalho de assessora com os estudos sempre foi um grande desafio. Eu não tinha metas rígidas, nem número fixo de horas líquidas por dia, tampouco um padrão perfeito a ser seguido. No começo, tentei seguir métodos alheios, planejamentos prontos, mas não deu certo. Percebi a importância de construir a minha aprovação do meu jeito, mas com ajuda de quem já passou por isso.
Inspirava-me nos aprovados que eu já admirava (como por exemplo, a Nathália e a Hayssa, duas guerreiras) e seguia em frente com o que dava, do jeito que dava, de pouco em pouco, mas sempre com o máximo de dedicação. No tempo que eu tinha buscava estudar com o máximo de concentração, para que houvesse um aproveitamento real. Uma coisa que eu aprendi: não existe número de horas ideais por dia, existe o que dá para fazer! E assim segui. Tinha dias em que eu não estudava nada porque não dava. Mas retomava a matéria em que eu havia parado nos dias seguintes e prosseguia nos estudos.
Meu estudo não foi linear. Embora as pessoas vejam o resultado final e imaginem uma linha reta do início dos estudos à aprovação, em regra, há inúmeras “voltas” no caminho. No meu caso, houve interrupções - além daquela do próprio concurso - por acontecimentos da vida familiar que me exigiram atenção integral. Inclusive, um deles ocorreu justamente quando da primeira fase. Os meses que a antecederam foram muito ruins para mim e eu mal conseguia estudar. Achei que seria derrotada por conta disso. Mas, fiz a prova e deu certo, conquanto tenha sido minha pior fase (fiquei com a nota mínima em 2 grupos).
Passei para a segunda fase. Depois de 1 ano e meio de interrupção do concurso, ele voltou com tudo, e com datas apertadas. Tirei férias e estudei o máximo que pude (eu acumulava férias já pensando em guardar para os períodos antecedentes à segunda fase e à prova oral).
A segunda fase é dividida em 4 dias EXTENUANTES. Não dá muito tempo de pensar nas respostas, se for para resumir essa fase, eu diria que simplesmente se escreve sem parar. Isso era difícil para mim, porque eu tenho mania de perfeição e vi, logo na preparação, que não daria para fazer respostas muito elaboradas, pensadas, tampouco rascunho. Estava com muito medo do resultado do G3 e não nutria grandes esperanças de passar (na verdade, sempre busquei não criar expectativas para não me frustrar depois e por me cobrar achando que poderia ter ido melhor).
Até que saiu o resultado... Foi uma alegria imensurável passar para a prova oral! Ainda mais porque tive uma nota muito boa, fiquei entre os primeiros na discursiva e isso me deixou feliz: afinal, era minha primeira segunda fase!!! Inclusive, minha maior nota havia sido no G3, justamente o grupo que eu achava que poderia me reprovar... Isso me mostrou definitivamente que não podemos antever resultados, não sabemos de nada! Grata surpresa!
Agora, chegava o desafio da prova oral: aquela que todos temem, não por ser a mais difícil, mas por envolver grande tensão e exposição. No caso do MPF, sorteio do ponto na hora, muitos pontos para estudar, saber responder quase de imediato... tudo isso assusta. Tirei férias novamente (eu tinha 60 dias de férias e os dividi entre os períodos antecedentes à segunda e à terceira fases).
Logo no início dessas “férias”, fui surpreendida com a aprovação para o TAF do concurso de delegado da polícia federal. Esse concurso foi no intervalo da segunda para a terceira fase do concurso do MPF. Fiz por fazer, mas admiro muito a carreira, que lida com as matérias que eu mais gosto na prática. Tomei a decisão de não ir fazer o TAF, até porque eu tinha parado de ir à academia antes da discursiva e não havia retomado. Assumi o “risco” de não ir para me dedicar inteiramente à preparação para a prova oral do MPF, por ser o concurso que eu sempre quis. Essa decisão, contudo, fez com que aumentasse a minha cobrança para que eu fosse aprovada no MPF.
No começo, me sentia relativamente “tranquila”, mas quanto mais eu estudava e a data da prova foi se aproximava, fiquei muito apreensiva, porque via o tanto de assuntos que ainda precisava estudar. Pensava que não iria conseguir. O graal (“resumo” que normalmente se utiliza para a prova oral) era interminável! O edital era grande demais... Mas eu não admitia perder nessa fase final, já tinha chegado tão longe!
A preparação para a prova oral envolveu alguns treinos e cursos, nos quais eu pude conhecer outros colegas (foi muito bom conhecê-los, é bom estar perto de quem está passando pela mesma coisa). Acabei vendo que, em regra, estávamos todos no mesmo barco. Cada um tinha seus pontos fortes, mas também havia aquelas matérias em que cada qual tinha mais dificuldades. Isso era bom, porque um poderia ajudar o outro. Fizemos algumas revisões de pontos do edital em grupo, o que ajudou bastante.
Além disso, vi que a tensão era normal. Percebi que bastava sobreviver à prova oral, meu sonho estava ali tão perto! E, claro, eu não iria desistir, fui com medo mesmo. O importante era ir! À essa altura, após um mês e aproximadamente 10 dias (foi esse o meu período de preparação para a prova oral), eu já estava uns 6 ou 7kg mais magra (fato que descobri no exame médico; boa parte desses kg já foi recuperada, claro!) e exausta. Foi certamente o período mais intenso de preparação. Eu estava imersa num mundo à parte.
No dia da prova oral, obviamente eu estava nervosa! Mas já me sentia muito grata por estar ali, verdadeiramente honrada por ser ouvida por pessoas que eu admirava tanto! O nervosismo foi passando e dando lugar a um sentimento de gratidão cada vez maior. Como foi bom fazer essa prova (poderia falar sobre ela por horas), a melhor delas, sem dúvida!
Saí da prova feliz. Lembro que voltei com meu conterrâneo Julio (fiquei muito feliz por existirem dois candidatos do ES na prova oral, há algum tempo não havia). Fizemos a prova no mesmo dia. E lembro que ele me disse, saindo da PGR, sorrindo: Laiz, acabou, nós vamos passar, seremos colegas!!! Aquilo me encheu de esperança!
No dia da APROVAÇÃO, então, me senti completamente realizada! Fiquei satisfeita com minha nota na prova oral (fiquei entre os doze primeiros nessa fase; era minha primeira prova oral). Quando vi o resultado, fui tomada por uma mistura de alívio e alegria. A ficha demora a cair. Eu não acreditava. Olhei inúmeras vezes aquele resultado, aquelas notas... Parei para pensar e vi o quanto evoluí ao longo do concurso, de cada uma das fases.
É indescritível a sensação! Eu lembro que quando estudava, pensava que a sensação de passar no concurso dos meus sonhos poderia ser semelhante àquela de aprovação no vestibular (da UFES, no meu caso, que era o que eu queria), mas não: é muito melhor! Queiram e lutem para senti-la!
O melhor de tudo, para mim, foi ver a alegria daqueles que sempre acreditaram em mim, mesmo quando eu achava que era impossível! Eles nunca acharam! E estiveram comigo em todos os momentos (não listarei nomes, para não ser injusta, mas quem participou sabe). Fizeram muito por mim, cada um a seu modo. Dou muito valor a isso e jamais esquecerei.
Nesse momento da aprovação, eu agradeci a Deus por ter simplesmente CONTINUADO, por ter tido forças mesmo no período mais conturbado da minha vida (o qual não foi nada fácil).
O segredo? Não existe, mas deve haver dedicação (no caso do MPF, uma dedicação específica, que eu tive, pois era meu sonho) e PERSISTÊNCIA. Método? O meu era me inspirar nos aprovados e adaptar o que era necessário fazer à minha rotina e ao meu jeito de aprender. Métodos fechados e planilhas prontas não me ajudaram.
A principal LIÇÃO: o concurso do MPF não é somente para os gênios, como eu achava (eu não tenho nenhuma genialidade, acreditem), mas sim, para aqueles que não desistem e que estão dispostos a estudar com afinco a atuação institucional. Permaneço apaixonada pelo MPF, onde sempre trabalhei. Isso me movia nos estudos e me moverá como Procuradora da República!
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